Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor

119

Valorizar peças antigas e artesanais contribui na conservação de tradições e histórias. Saiba como escolher os objetos para compor ambientes encantadores

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro

Na busca de composições que fujam do risco de se criar espaços genéricos, padronizados e sem personalidade – muito em função das tendências mainstream de produtos fabricados em massa –, a seleção deve contar com mais profundidade, apostando em objetos decorativos com significado e conexão emocional. Assim, a arquitetura de interiores ressalta a sua capacidade de resgatar a autenticidade do passado: a leitura vintage composta por peças cuidadosamente escolhidas e inseridas nos ambientes. Mas como encontrar as certas? “Garimpar é uma experiência que envolve fatores como a história da peça, o estado de conservação, os cuidados e o conceito de aplicação no ambiente em que será inserida, além dos benefícios que o reaproveitamento da arte ou peça vintage significa, pois é uma forma sustentável de lidar com o consumo e descarte excessivos. Também considero excelente para expressar individualidade e conectar com alguma memória afetiva do morador”, destacam as arquitetas Ieda e Carina Korman, à frente do escritório Korman Arquitetos.

Formas de garantir boas peças

Primeiramente, as arquitetas sugerem vislumbrar o item desejado por meio de pesquisas prévias sobre as características, marcas e fabricantes, visto que esta ficha técnica simplifica a busca e a colocação no ambiente, desde a questão de atravessar portas até o local definitivo que o item ocupará. Feito isso, é chegada a hora de procurar nos principais locais: brechós, feiras de antiguidades, mercados de pulgas, lojas de móveis usados, leilões e até mesmo lojas on-line especializadas em itens vintage.

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro1
Neste ambiente, com inspiração pop, o design de interiores seguiu uma proposta mais fluida e descontraída, com referências a animações, bandas de rock e Seleção brasileira | Projeto do escritório Korman Arquitetos | Foto: Sidney Doll

Nessa busca, também é importante observar a qualidade, pois, embora as peças antigas comumente sejam produzidas em materiais nobres, a utilização no passado pode implicar em danos estruturais significativos. “Devemos nos envolver com os mínimos detalhes, acabamentos artesanais e ao estilo distintivo”, diz Ieda. No caso de móvel, objeto quebradiço ou estofado que valha a pena restaurar, a dupla de arquitetas indica recorrer a um profissional especializado em reparos e preservação de autenticidade das peças. A genuinidade e a narrativa única do vintage propiciam uma grande facilidade na criação de pontos de destaque em um ambiente, porém elas alertam que o segredo está na combinação entre contraste e equilíbrio. “Em excesso, as peças antigas entregam a percepção de obsoleto e ultrapassado. Esse erro é evitado por meio da mescla com outros estilos, seja o industrial, boho ou moderno, tornando o décor de interiores encantador”, explica Carina.

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro2
Para eternizar a memória afetiva, a sanfona de um antepassado foi posta exposta como um quadro na parede de tijolinhos aparentes que integra o projeto de um loft | Projeto do escritório Korman Arquitetos | Foto: Eduardo Pozella

Além disso, as peças vintage dispõem de apelo estético singular e, quando herdadas, tornam-se ainda mais especiais em função do valor sentimental atribuído. No entanto, Ieda enfatiza que a paleta de cores é um importante elo. “Para o equilíbrio visual entre o vintage e o estilo escolhido, é preciso conciliar as tonalidades, texturas e proporções”.

Entretanto, o vintage não está apenas focado na história ou lembranças, o design também contribui por meio das linhas curvas, formas orgânicas, pés palito, detalhes entalhados e estofados com tecidos texturizados. Esses traços expressam uma preservação do patrimônio cultural ao valorizar peças com importância histórica e cultural. “Sobretudo a expressão pessoal, pois, como arte, elas conseguem revelar o íntimo da pessoa”, avalia Ieda.

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro3
No cantinho próximo à escada do apto, o carrinho herdado da avó, e desenhado pelo designer Jean Gillon, ganhou uma nova função: virou o bar da casa | Projeto do escritório Korman Arquitetos | Foto: JPImage

Dentre os itens mais procurados no mercado, segundo as arquitetas, estão lustres e rádios antigos, máquinas de escrever, geladeiras retrôs, vinis, espelhos com molduras ornamentadas, objetos de colecionador, cadeiras e sofás com designs característicos de décadas passadas.

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro4
A decoração autêntica, com peças estimadas pelos moradores, transforma espaços comuns em verdadeiros refúgios de personalidade e com um ar eclético | Projeto da Korman Arquitetos | Foto: Gui Morelli

Retrô x vintage

Charme do passado: a arte de garimpar peças para o décor - retro5
Móveis retrôs também valorizam a conexão com o passado | Projetos do escritório Korman Arquitetos | Foto – esquerda para direita: (1) (2): Gui Morelli | Foto (3): Julia Novoa

Outra alternativa charmosa e nostálgica é apostar no retrô que são novas, mas fazem uma releitura com épocas de outrora. Carina afirma que são ótimas adições quando bem combinadas com elementos modernos e a aplicação no décor se assemelha bastante com o vintage. “Apesar da diferença notória, os dois estilos trazem aquela sensação de época e um significado especial. O design retrô, assim como o vintage, precisa ser pautado pelo contraste e equilíbrio dos elementos no ambiente e, para quem se preocupa em conquistar espaços únicos, as peças costumam ser autênticas ou limitadas, entregando ainda mais no lar”, completa.