Arquétipos e crenças podem influenciar projetos de arquitetura

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Arquiteto e urbanista, Lorí Crízel explica que é preciso separar a ciência da fé, mas que criação de espaços deve respeitar as convicções de cada cliente

Arquétipos e crenças podem influenciar projetos de arquitetura - ARQUETIPOEm Singapura, o feng shui está em todas as partes, em residências e edifícios comerciais. A milenar prática chinesa tem como objetivo promover a harmonia entre os indivíduos em um espaço, interferindo, assim, em praticamente todos os ambientes dessas edificações. Entretanto, independentemente dos costumes e das crenças das pessoas de diferentes países do mundo, o perfil, a cultura e as tradições de quem vai usufruir do local a ser elaborado é que devem ser levados em conta no projeto de um imóvel. O arquiteto e urbanista Lorí Crízel, especialista em neuroarquitetura, destacar que é fundamental respeitar as crenças de todos, mas pondera que não existem comprovações científicas de que práticas baseadas em convicções dessa natureza, como a do feng shui, sejam eficazes para respaldar uma proposta arquitetônica.

Para executar tipologias projetuais que visam gerar experiências, os profissionais costumam se utilizar de mecanismos como, por exemplo, a compreensão dos arquétipos, um conceito da psicologia analítica desenvolvido por Carl Gustav Jung para representar padrões e modelos comportamentais e relacionais.

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Em sua obra, Jung organizou 12 arquétipos: inocente, cara comum, explorador, bobo da corte, sábio, prestativo, herói, criador, fora da lei, governador, mago e amante. “Esses modelos são muito utilizados em projetos comerciais e na publicidade, possibilitando a criação de conexões entre as empresas e o consumidor”, conta o profissional.

Por exemplo, se a pessoa é mais tranquila e lúdica, tem um perfil mais familiar e uma vida mais caseira, por isso, a casa precisa ser mais aconchegante, que acolha e abrace muito mais as pessoas, conectando-as muito mais com a família, promovendo o bem-estar em um grupo de parentes ou de amigos.

O mesmo raciocínio vale para os signos do zodíaco. “Se o cliente diz que é de um determinado signo e que aquilo é muito importante para ele no ambiente, isso é atendido e preconizado no projeto, desde que esse elemento tenha valia emocional para aquela pessoa. Ou seja, elas depositam credibilidade, crença e confiança naquilo, e, automaticamente, para que eu gere engajamento emocional e segurança psicológica, vou entregar isso no projeto”, finaliza.

Já para projetos comerciais, o especialista explica que adota como base o mecanismo de definição de público-alvo que uma empresa ou uma marca pretende alcançar. Esse público-alvo começa a ser traçado pelos arquétipos e depois são transformados em personas, que é a qualificação do arquétipo e suas características, como as faixas etária, socioeconômica e sociocultural, o regionalismo etc. “As pessoas que dão preferência a maior carga informativa são aquelas que gostam de ambientes com mais dinamismo, recheados de experiências sensoriais e, automaticamente, mais possibilidades de interação com ele. Já as que trabalham com menor carga informacional são mais concisas, objetivas e diretas. Então, quanto mais funcional e prático for o espaço, melhor”, exemplifica.