O arquiteto Lorí Crízel aponta como o uso da iluminação, cores e design pode criar um ambiente propício para o bem-estar e repouso
Mais da metade da população brasileira não consegue se beneficiar adequadamente do sono de qualidade. É o que aponta uma pesquisa realizada em 2019, pela Associação Brasileira do Sono: 65% dos brasileiros têm problemas de qualidade de sono. Outro dado do levantamento destaca o que pode ser um dos principais responsáveis pelo quadro: o uso de aparelhos eletrônicos antes de dormir, uma rotina reconhecida por 64% dos entrevistados deste estudo.
Com cada vez mais distrações e atrativos que seduzem as pessoas a ficarem acordadas por mais tempo, um dos fatores importantes para garantir um sono de melhor qualidade é a condição do espaço destinado para o descanso. Um aliado para que um ambiente favorável é a neuroarquitetura.
O arquiteto e urbanista Lorí Crízel, especialista nesta ferramenta da neurociência que analisa os impactos do ambiente físico no comportamento humano, aponta que a iluminação está diretamente relacionada à qualidade do nosso sono. “Precisamos ter cuidados significativos com a luz natural e aproveitar o máximo possível dela ao longo do dia, pois ela ajuda a configurar melhor o nosso ciclo circadiano. Em um projeto, nós temos de usar fontes de iluminação artificial que considerem esses aspectos e que, no período da noite, não sejam incentivadores de uma contínua produtividade”, explica.
As cores, por exemplo, podem ser estimulantes e interferir na hora de dormir. As cores azul e verde, em tons claros, são consideradas, por algumas linhas de pesquisa, calmantes e geradoras de uma sensação de tranquilidade. Já o preto e o vermelho, seguindo os mesmos estudos, são desaconselhados, por exemplo, em espaços de saúde, pois a primeira destas tonalidades pode despertar sentimentos de maldade, miséria, pessimismo, dor, temor, negação, melancolia e angústia, enquanto a segunda, em tons escuros, pode ser muito estimulante ao instigar ações como atos violentos, apetite em excesso ou fazer o indivíduo a tomar atitudes antes de pensar em suas consequências.
Outro aliado para a obtenção de um sono de melhor qualidade pode ser a aplicação dos conceitos do chamado design salutogênico, bastante utilizado em ambientes de saúde e que é a interseção entre arquitetura, neurociência e psicologia com foco no apoio à saúde e ao bem-estar. Outra ainda é o design biofílico, usado na neuroarquitetura com o objetivo de aumentar o contato com elementos da natureza, como água, plantas, animais e ventilação luz natural, estimulando a criatividade e a sensação de pertencimento ao local, a conexão com a “vida” e reduzindo o estresse.